sábado, 26 de março de 2011

Pedro e as tequilas

Certo que eles nem bem um namoro tinham. Por isso nunca houve entendimento, nem acordo, nem decisão alguma. Pedro e Isabel se conheceram certo sábado a noite no Baixo Gávea, um amigo de um amigo de Pedro tinha namorado a melhor amiga da prima de Isabel. Eles ficaram. E daí em diante continuaram juntos, mas como nesses rolos malucos e abertos que não seguem nenhum tipo de regra de relacionamento. Vez ou outra saiam com os amigos que tinham em comum, ou como um casal de namorados que vai ao cinema numa tarde de domingo, mas não tocavam nessa palavra. Pedro nunca pediu para namorar Isabel, e Isabel, muito blasé, fingia que não ligava; porque, no início, de fato, não ligava mesmo. E os anos se passaram, e com o tempo, o número de idas ao cinema aos domingos foi aumentando, e o número de meninos que Isabel beijava que não eram Pedro foi diminuindo, tal como o número de meninas que não eram Isabel que Pedro beijava.

Acontece que Isabel não era nenhum tipo Frida Kahlo, onde o fim só chega quando você “tá tipo comendo a minha irmã”. E depois de toda a intimidade criada, todos os momentos vividos, Isabel não suportara a traição, que nem bem tinha sido com sua irmã, já que Isabel era filha única, tinha sido com sua prima. Foi então que a não-relação dos dois se abalou. Foi então que tudo aquilo que eram sem dizer, se fez importante de mais para passar despercebido. Pedro se justificou, culpou Jose Cuervo, culpou Herradura. Mas para Isabel não servia. Isabel não estava cobrando fidelidade, e sim, lealdade. Fosse uma menina de boate como tantas outras, fosse as de viagens com os amigos, não faria mal. Mas tinha sido sua prima, a que apresentara os dois, parte de sua família. Tudo tinha seu limite, até o não-relacionamento dos dois tinha suas regras, fossem apenas de conduta, de bom-senso. Pedro não havia respeitado a única regra que existira esse tempo todo entre os dois.

- Amor não tem a ver com fidelidade, Pedro. Não é esse o problema. Você não me foi leal!

- Ela não significou nada. Eu não quis, eu estava bêbado! Isabel, me escuta!

- Pedro, por favor, não me procura mais.

E então, ela bateu o portão sem nem ao menos olhar pra trás. Sendo todas as mulheres que sempre foi, e tendo um pouco de cada uma delas. E Pedro engoliu a vontade de pedir a Isabel que não fosse, e ficou parado olhando e achando que seria a última vez que veria aquela pele tão lisa e linda de suas costas. Mal sabia ele do dia da praia.

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