sábado, 26 de março de 2011

Elis e um pedido

Isabel acabara aceitando o convite de Pedro. Um teatro e um chopp não era bem o tipo de programa que somente namorados podiam fazer. Resolveram que sairiam como amigos, e nada mais. Nada mais até que o frio do teatro os fizesse chegar mais perto um do outro. Nada mais até a mão de Pedro envolver sua cintura naquela hora em que todos levantam para ir embora. Nada mais até que as mãos fossem dadas enquanto os pés sentiam a areia gelada da praia e aproveitavam o passeio a noite para olhar as estrelas. Andaram até aquele velho quiosque que costumavam ir. Iam sempre beber e cantar e se amar na areia da praia, como se novela ou filme fosse o namoro dos dois; aquele romance tão antigo e que mesmo depois de tantos desencontros parecia intacto na memória. Pedro escolheu a mesma música que escolhera na primeira vez que foram lá. E cantou sorrindo como havia feito naquela ocasião; fosse pelo efeito da cerveja ou da vergonha, não se sabe. Isabel dava gargalhadas e goladas de cerveja enquanto olhava para Pedro, como se aquela fosse, de fato, a primeira vez que os dois estavam ali. O olhava como se nunca tivesse acontecido nada: nem outros homens nem outras mulheres nem nenhuma das muitas brigas que tiveram. Sempre fora ele, ela sabia. Sabia mais do que ninguém. E por isso então sorrira como da primeira vez. Nada havia mudado. Nada.
Então escolheu uma música boba que falava de amor. Lembrou de um dos filmes que sempre assistia que contava um romance lindo em que no final tudo dava certo, onde a protagonista subia no palco e se declarava. Pedro merecia. Mesmo depois de tudo pelo que tinham passado; aquele sorriso nunca mudara, aquele amor nunca diminuira. E foi meio desafinada e bêbada que ela cantou o amor que nunca diminuiu, o amor que ela havia guardado para ele durante tanto tempo sem nem mesmo saber. Era essa a música. A música em que só ela sabia quanto amor havia guardado mesmo sem saber que era só pra ele. Tom Jobim parecia ter composto o amor deles, e Elis Regina cantara a versão dos dois. Mas dessa vez não era Elis, era Isabel; Isabel e alguns chopps e alguns tons mais alto ou por vezes mais baixo do que deveriam ser.

- Se ao menos pudesse saber…

Pedro roubou o microfone e olhando-a nos olhos como há tempos não fazia disse:

- …que eu sempre fui só de você. Você sempre foi só de mim.

Isabel sorriu.

Acordaram na manhã seguinte juntos. Pedro beijando suas costas. Ele sentira saudade daquela pele. 

- Bom dia, ela sussurrou.
- Isabel, você quer casar comigo?

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